Empresa tentou mirar na nostalgia com Gameloft Classics, mas acabou retirando ele das lojas digitais
Há um tempo atrás, a Gameloft, uma gigante de jogos para celular, parecia que não sabia que rumo queria tomar. Decisões duvidosas, escolhas erradas e muitas microtransações abusivas. Muitas coisas estavam nebulosas, até que tudo ficou bem claro no que ela quer focar: Jogos infantis. Tendo uma parceria com a Disney, a empresa parece estar no rumo certo, com as receitas aumentando em 95 milhões de euros em 2022 pelo sucesso de Disney Dreamlight Valley.
Uma ponta de nostalgia no ar
Em meio à crise da COVID-19, a Gameloft lançou uma verdadeira pérola que emocionou muito homem barbado: o Gameloft Classics, um aplicativo reunindo 30 jogos da era Java, daqueles tempos mais simples em que os celulares ainda tinham botões físicos e a internet era discada, movida à lenha.
O aplicativo chegou como uma celebração dos 20 anos da empresa e incluía títulos memoráveis como Block Breaker Deluxe 2 e 3, Bubble Bash 2, Diamond Rush, Soul of Darkness e Vampire Romance. Para muitos jogadores que acompanharam a evolução dos jogos mobile desde o início, foi uma viagem para um passado onde os jogos só precisavam ser pagos uma vez – sem compras adicionais, sem conexão constante com a internet, sem as práticas predatórias que viriam a dominar o mercado.
Infelizmente, nem tudo eram flores. Por problemas de licenciamento, muitos títulos pedidos pelos fãs não apareceram (como a saga Asphalt ou o preferido de muitos que era o 4: Elite Racing, Real Football e Ferrari GT). Conseguir essas licenças exigiria um investimento que uma empresa que já estava mal das pernas depois de tantos fracassos e por causa do caso Modern Combat 5 não poderia fazer – tanto que até mesmo o tema do Miami Nights 2 foi substituído. Apesar dessas ausências sentidas, o aplicativo foi um grande sucesso, reacendendo a esperança de que a Gameloft pudesse trazer de volta seus grandes clássicos e, quem sabe, até mesmo seus clássicos da era Android.
Foi uma iniciativa admirável para resgatar esses jogos antigos, frequentemente esquecidos por muitos, preservando parte importante da história dos jogos móveis que já é muito desprezada, só observar que além da Gameloft, quais empresas trouxeram os seus jogos Java na Playstore? Pois é.

Sumiço do apk: Mais um dia normal nas Playstores
Em 2023, o aplicativo que antes era dividido em partes pagas foi transformado em uma versão gratuita offline, para depois simplesmente desaparecer. Nenhum comunicado, nenhuma explicação da Gameloft – como se o projeto nunca tivesse existido. Não há nenhuma menção no site da empresa.
Usuários que buscaram o aplicativo nas lojas digitais se depararam com o vazio. Nos fóruns e comunidades online, perguntas sem respostas se multiplicavam. Por que remover um aplicativo que trazia apenas benefícios à imagem da empresa? Por que apagar parte da própria história?
Infelizmente, a Gameloft não emitiu nenhuma declaração oficial sobre a remoção do Gameloft Classics. Algumas especulações sugerem que problemas técnicos de compatibilidade com sistemas operacionais mais recentes podem ter motivado a decisão, já que as lojas digitais exigem atualizações constantes para que o aplicativo seja compatível com as variadas versões do Android (a Google é bem chata com isso) enquanto outros apontam para uma mudança estratégica de foco da empresa.
A “maldição” da Vivendi
A aquisição pela Vivendi em 2016 marcou o início da transformação na Gameloft. O gigante francês de mídia adquiriu 61,7% das ações da Gameloft em um processo hostil que teve resistência pelo ex-CEO e fundador Michel Guillemot.
Após a aquisição, muitos executivos de alto escalão, incluindo o próprio Guillemot, deixaram a empresa. A mudança não foi apenas administrativa – a filosofia de desenvolvimento também sofreu alterações pesadas. O foco em jogos originais foi substituído por títulos baseados em propriedades intelectuais conhecidas, principalmente da Disney.

A Vivendi, com seu histórico de aquisições agressivas no mercado de entretenimento, parece ter priorizado resultados financeiros imediatos ao invés da criatividade que havia construído a reputação da Gameloft. As séries originais que fizeram a fama da empresa nos primórdios dos smartphones – como N.O.V.A., Modern Combat, e Dungeon Hunter – foram sendo abandonadas ou transformadas em free-to-play (os famosos jogos grátis) carregados de microtransações.
Uma tristeza no fim do túnel
Hoje em dia, a Gameloft é praticamente irreconhecível para seus fãs antigos. O foco atual em jogos licenciados como Disney Dreamlight Valley, Disney Speedstorm e The Oregon Trail mostra uma empresa que encontrou estabilidade financeira, mas perdeu muito da identidade que a tornou especial.
A aquisição pela Vivendi parece ter comprometido todo o potencial que a empresa realmente tinha. Afinal, acredito que a maioria dos fãs das antigas não está muito interessada em jogos da Disney ou em um clone de Mario Kart estrelando o Mickey. Mas também precisamos reconhecer que a empresa não é mais a mesma, e os jogos mobile em geral tomaram um rumo bastante questionável, dominados por modelos de monetização lamentáveis.
O sumiço do Gameloft Classics simboliza algo maior – representa o abandono de parte da história dos jogos de celular em favor de apostas mais seguras e comercialmente viáveis. Para os jogadores que cresceram experimentando as inovações da Gameloft nos primeiros smartphones, resta a nostalgia e os emuladores como último recurso para reviver aquela era.
Por enquanto, é assim que a banda toca. Resta torcer para que, em algum momento, a empresa acorde um dia e quem sabe, em um futuro próximo, dê aos seus clássicos o tratamento que eles verdadeiramente merecem.
Fonte: Mobile Gamer